quinta-feira, 28 de maio de 2009

VOZ DA EXPERIÊNCIA

Para Ronaldo Fraga, a formação universitária é um diferencial no mercado da moda, e os profissionais estão mais valorizados

Natália Soares

RIO - O estilista mineiro Ronaldo Fraga costuma dizer que não escolheu, mas foi escolhido pela moda. Apaixonado por desenhos desde criança, ele começou um curso no Senac aos 15 anos por indicação de uma vizinha. Depois de tirar a maior nota da sala, foi indicado para trabalhar numa loja de tecidos e, em seguida, numa confecção. Formado em Estilismo pela UFMG, ganhou um concurso e foi fazer pós-graduação na Parson's School of Design em Nova York, de onde seguiu para a Saint Martins School de Londres. Em 1996, lançou a marca com seu nome no extinto Phytoervas Fashion e, no ano seguinte, ganhou um prêmio de estilista revelação. Daí, "não parou mais".

Para Fraga, a moda é o instrumento de comunicação mais eficiente do mundo. Na sua avaliação, há boas oportunidades no mercado. Mas ele lembra: estar antenado é fundamental:

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- As pessoas acham que só é preciso ler revista de moda, mas é preciso saber de arte, literatura e até economia.

Do cotidiano frenético, ele só reclama de trabalhar com prazos apertados.

- Tem sempre uma coleção atrasada, ofegante, correndo atrás de mim - brinca Fraga, que a seguir responde às perguntas enviadas por leitores ao site do GLOBO.

Para fazer faculdade de moda é necessário saber costurar e desenhar ou se aprende durante o curso? Quais as características básicas para ser um profissional de sucesso? (Cinthia Cruz)

RONALDO FRAGA: Não é preciso saber costurar e desenhar antes de entrar na faculdade. A moda forma muito mais do que estilistas e costureiros. Forma gente para lidar com gestão de negócios, marketing, vendas, jornalismo, entre vários outros setores que não estão ligados à criação e à costura. O segredo para se transformar num estilista de sucesso é ter um olhar mais difuso sobre o processo. É não se preocupar apenas com as peças, mas estabelecer um diálogo com o mundo. É preciso estar antenado, não apenas no que acontece na moda, mas, sim, em todas as áreas, como literatura, economia, arte contemporânea... Todos esses são elementos para a construção de um estilo.

Até que ponto a faculdade influencia na formação de um profissional de moda? (Maria Isabel Parahyba)

FRAGA: A faculdade tem um grande papel, que é o de proporcionar trocas entre os alunos e pessoas de herança profissional e cultural diferentes. É um espaço onde a pessoa tem mais liberdade de criar do que no mercado. Esse papel da escola é fundamental, principalmente porque a escola tem que fomentar o desenvolvimento de pesquisa, de buscar sempre o novo. Quem faz faculdade consegue exercitar seu estilo, além de obter uma abordagem cultural sobre seus produtos.

É preciso ter diploma para se dar bem no mercado? (Thamyris Catib)

FRAGA: Não necessariamente, mas é um instrumento a mais. Ainda temos poucos estilistas de destaque que saíram da escola, a maioria ainda é autodidata. Mas, hoje em dia, ser autodidata não agrega mais valor, e a formação acadêmica faz com que seja mais fácil entrar no mercado, em qualquer área da moda.

O que você diria sobre o mercado de trabalho no Brasil? E quais as dicas para os profissionais conseguirem se sustentar trabalhando no que gostam? (Sabrina Corrêa)

FRAGA: O brasileiro tem gosto por moda. O São Paulo Fashion Week só perde em divulgação para um jogo do Brasil na Copa do Mundo, por exemplo. Há bastante oportunidade no mercado sim, e elas são crescentes. O profissional de moda está cada vez mais valorizado. Temos, no entanto, carência de pessoal técnico, como alfaiates e modelistas. Para quem quer montar seu negócio, minha dica: é preciso se preocupar não apenas com o estilo, mas também com a gestão da marca.

Que conselho você daria para quem ainda está dando os primeiros passos na criação de roupas? (Edith Murphy)

FRAGA: Você precisa saber que este é um negócio como qualquer outro e precisa de muita dedicação e envolvimento. O estilista é o personagem que se destaca entre a indústria e o glamour, mas saiba que este é 0,5% do conjunto. Leiam, se informem e não achem que estão inventando a roda. O importante é saber contar de um jeito novo as velhas coisas.

Como é o trabalho de produtor de moda? Quais são os pré-requisitos? (Barbara Rodrigues)

FRAGA: O produtor de moda pega a coleção pronta e conta uma história com as peças, constrói uma linguagem e reafirma, no desfile, a imagem que o estilista deseja passar. Quem investe num curso superior tem vantagem porque aprende sobre todo o processo de produção e se torna um profissional mais completo.

Fonte: O Globo Online | Publicada em 26/05/2009

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